Regina Célia Pereira da Silva
Università degli Studi l’Orientale di Napoli
Università degli Studi l’Orientale di Napoli

O encontro realizado com estes dois escritores, fez-me lembrar as famosas tertúlias portuguesas que se desenrolavam ao sabor de um café ou de uma cerveja bebidos na Brasileira. De facto, o clima que se criou ente todos era informal e extremamente amigável o que proporcionou uma grande abertura e até confidência – é Ana Paula Tavares que o confirma, em primeira pessoa, quando declara que iria contar mais uma história acontecida em Luanda, autobiográfica evidentemente.
Tudo parte do famoso livro de Luandino Vieira Luuanda publicado em 1964 e escrito durante a sua estadia na prisão, para onde tinha sido arrastado pela polícia política, devido às suas ideias políticas. Acusado de ter ligações políticas com o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) foi preso em 1959 pela PIDE - Polícia Internacional de Defesa do Estado, no âmbito do que ficou conhecido como "processo dos 50". Em 1961 voltou a ser preso, tendo sido condenado a 14 anos de prisão e a rigorosas medidas de segurança. Em 1964 foi transferido para o campo de concentração do Tarrafal, em Cabo Verde, onde viveu oito anos, tendo sido libertado em 1972, em regime de residência vigiada.

Por outro lado, é de salientar qe a escrita literária de Luuanda, escolhida por Luandino Vieira, já não apresenta aquele portuguê de Coimbra ou de Lisboa, não só devido à introdução do quimbundo e devido à subversão das estuturas sintáticas e gramaticais, onde a oralidade africana e a forma de contar livre típica angolana se articulam com o discurso narrativo do autor mas fundamentalmente porque as representações do quotidiano que descreve – a fome, a miséria, falta de recursos materiais, etc – revelam a existência de uma Angola diferente daquela que o colonizador fotografava.
O escritor enquadra-se na geração da Cultura (II), surgida no final dos anos 50, para prolongar a acção do Movimento dos Novos Intelectuais de Angola (MNIA, 1948) e da Mensagem (1951-52), de que se destacaram, entre outros, António Cardoso, Arnaldo Santos e Henrique Abranches.
Afirma Ana Paula Tavares que as narrativas de Luandino Vieira dos anos 60-70 apresentam um fio lógico que as une e que se concretiza no nascimento da consciência de nacionalidade, daquela angolana. Tal conciência surge como um sentimento de pertença a um país que está surgindo e vem crescendo progressivamente.
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